Um
protesto contra o aumento da tarifa de ônibus provocou tumulto em Natal
na tarde de ontem. Cerca de 1.500 manifestantes ocuparam diversas ruas
da cidade. A movimentação teve início por volta das 15h na praça 7 de
Setembro, próximo à Prefeitura, e terminou pouco depois das 21h já na BR
101, à altura do Natal Shopping.
O
protesto, que durou cerca de sete horas, foi pacífico durante a maior
parte do tempo. A polícia acompanhou de longe toda a movimentação.
Alguns manifestantes mais exaltados queimaram pneu, picharam muros e
veículos. Esse é o segundo protesto realizado pelos estudantes esta
semana. O primeiro ocorreu na última quarta-feira, na BR-101, nas
proximidades da UFRN.
A ideia do movimento, intitulado "Revolta
do Busão", era protestar em frente ao Palácio Filipe Camarão, mas
depois da decisão da Prefeitura de encerrar o expediente mais cedo, o
grupo resolveu percorrer e ocupar outras áreas da cidade.
De
acordo com nota enviada pela Prefeitura, a medida atendeu a orientação
da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social e teve o
objetivo de assegurar a integridade dos servidores que trabalham no
local e populares que procuram os serviços ali oferecidos.
Gritando
palavras de ordem os estudantes saíram pelas ruas do Centro da cidade, o
destino era a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob). Diferente do que
aconteceu no protesto anterior, pelo menos, no primeiro momento, a
população apoiou a atitude dos jovens de lutar pela redução do valor da
tarifa de ônibus.
Motoristas e comerciantes do Centro aplaudiram
os estudantes, que desceram a avenida Rio Branco [Cidade Alta] e ao
chegarem à Ribeira pararam em frente ao prédio da TRIBUNA DO NORTE e
ofenderam a imprensa com palavras de baixo calão, além de picharem
palavrões no muro do estacionamento da empresa.
No cruzamento das
avenidas Tavares de Lira e Duque de Caxias, alguns manifestantes
atearam fogo no lixo espalhado em em um pneu em frente à Defensoria
Pública.
Por volta das 16h o grupo chegou em frente à Secretaria
de Mobilidade Urbana. Alguns estudantes encapuzados subiram no teto de
um ônibus da empresa Santa Maria que foi impedido de seguir a viagem.
Com
a chegada dos policiais - que acompanharam a movimentação de longe - o
grupo caminhou em direção à praça Augusto Severo, em frente ao Teatro
Alberto Maranhão, para definir o novo destino do protesto.
Os
manifestantes ludibriaram parte do efetivo policial ao definirem que
iriam à Praça Cívica, quando na verdade seguiram rumo à zona sul da
cidade pela avenida Hermes da Fonseca, chegando ao cruzamento com a
Bernardo Vieira.
BR-101 é parcialmente fechada
Os
estudantes seguiram em direção a BR101. O destino era a passarela do
Natal Shopping, o objetivo era fazer um "roletaço" - seguir viagem no
ônibus sem pagar a tarifa de R$ 2,40.
Diferente do que aconteceu
no primeiro protesto, na última quarta-feira, não houve confronto entre
os estudantes e a polícia. Tanto os policiais militares como os
rodoviários acompanharam de longe a manifestação.
Em virtude da
largura da BR101 os manifestantes não conseguiram fechar toda a via, com
isso carros, ônibus, motos e manisfestam dividiam o mesmo espaço. Sem
nenhuma noção do perigo um estudante sentou no meio da BR 101, um
caminhão passou bem próximo a ele. Uma menina se machucou - sem
gravidade - e uma viatura da Semob a levou para o hospital.
Durante
todo o trajeto os estudantes gritavam palavras de ordem e exigiam a
revogação do ato que autorizou o aumento da tarifa de ônibus para
R$2,40.
O trânsito não chegou a ser interrompido por completo na
via, apenas os ônibus eram impedidos de prosseguir com a viagem. Só eram
liberados aqueles em que o motorista abrisse a porta e permitisse a
entrada dos estudantes. Até os ônibus de Parnamirim foram fechados.
Com
receio que os manifestantes depredassem os ônibus, poucos motoristas
ofereceram resistência e permitiram a entrada dos estudantes que pulavam
a roleta, sem pagar a passagem.
A medida que os ônibus passavam os estudantes se dispersavam. Por volta das 21h poucos manifestantes estavam no local.
O próximo está marcado para a terça-feira (04), às 08h da manhã na Câmara Municipal de Natal.
Segurança é reforçada no Midway Mall
Passava
das 17h quando os manifestantes seguiram em direção ao shopping Midway.
Durante mais de duas horas o trânsito da avenida Hermes da Fonseca
ficou completamente parado pelos estudantes que sentaram no meio do
cruzamento com a Bernardo Vieira, um dos pontos com maior movimentação
de carro da cidade. Um pneu foi queimado nas proximidades do Instituto
Maria Auxiliadora. Os trabalhadores das lojas e escritórios pareciam
assustados com a movimentação. Outros apoiaram o grupo.
Quem
estava de ônibus preferiu completar o percurso a pé do que esperar pela
liberação do trânsito. Os motoristas até tentaram furar o bloqueio
intimidando os estudantes acelerando os carros, mas eles não saíram do
local.
Situação ainda mais complicada era a do caminhoneiro
Warlen Almeida. Ele passou mais de duas horas parado e ainda tinha que
seguir viagem para Fortaleza.Mais uma vez os manifestantes ofenderam a
imprensa. Um grupo de cerca de 10 pessoas cercaram a equipe da TRIBUNA
DO NORTE e da InterTV Cabugi. Eles exigiam a saída dos jornalistas.
Após
esse episódio os manifestantes ensaiaram uma dispersão, mas desistiram e
resolveram continuar com a caminhada pela BR101 rumo ao Natal Shopping e
ao Via Direta.
EDITORIAL
Excessos e acesso à liberdade
Alguns
dos jovens que participaram da manifestação de ontem, pelas ruas de
Natal, hostilizaram e agrediram equipes de reportagem da TRIBUNA DO
NORTE e da InterTV/ Cabugi. Insultos foram gritados, ofensas foram
pichadas em muros, profissionais foram intimidados e alvos de violência.
Uma hostilidade irracional, contradizendo a motivação de jovens que
se pretendem "parcela consciente" da sociedade. Uma agressão covarde e
vergonhosa para jovens que se apresentam como estudantes. As lideranças,
entre esses jovens, podem não concordar com o que ocorreu. Mas, ao não
coibirem tais excessos, mostram que são falhos como líderes.
Reclamavam
- os jovens que gritavam por liberdade, democracia, exigindo ser
ouvidos - que "a imprensa devia falar a verdade". A TRIBUNA DO NORTE,
nas edições de quinta e de sexta-feira, deu amplo espaço para a
manifestação. Reportou as razões dos jovens, mas também as consequências
dos atos praticados por eles. Registrou fatos, como a ação da PM, e
também as reações da população.
"Ao sair às ruas, os estudantes e
seus líderes precisam, primeiro, se conscientizarem que isso é fazer
jornalismo com responsabilidade e isenção. Que vivemos em um estado de
direito e que o respeito à liberdade de expressão - de todos - é a
garantia maior da democracia."