domingo, 1 de julho de 2012

Música para os músculos



Isaac Ribeiro - repórter

Se você tem como hábito caminhar ou correr  para manter a forma física, e costuma usar fones de ouvido para animar a atividade, já deve ter percebido que ao tocar uma música mais rápida os passos aceleram junto com ela. Realmente faz todo sentido. Pelo menos é o que aponta um estudo realizado pelo professor paranaense de Educação Física Marcelo Bigliassi, publicado  na Revista Brasileira de Psicologia do Esporte.

A pesquisa afirma que a música ouvida durante a atividade física pode afetar diretamente o desempenho. Segundo o autor do estudo, as canções escolhidas para malhar devem ter batimento semelhante à frequência de passadas ou movimentos do exercício. É importante também escolher uma lista de acordo com o gosto pessoal do praticante, inclusive levando em consideração o fator motivacional. 
 Rodrigo SenaOuvir suas canções prediletas durante a caminhada ou a corrida ajuda ainda mais a incentivar o corpo 
Ouvir suas canções prediletas durante a caminhada ou a corrida ajuda ainda mais a incentivar o corpo

Para uma corrida de maior intensidade por exemplo, o ideal é escolher uma música com uma variação de batidas por minuto (bpm) entre 120 e 145; para uma caminhada moderada, entre 115 e 125; já uma caminhada leve, 100 bpms. Mas não é algo tão rígido assim. Praticar determinada exercício com uma batida não adequada não implica em prejuízos.

O doutor em Educação Física, Breno Guilherme Cabral diz conhecer vários estudos semelhantes, mostrando a importância da música para o desempenho da atividade física. Segundo ele, a música durante a malhação aumenta a produção de hormônios, adrenalina, noradrenalina e endorfinas que provocam a sensação de prazer enquanto se exercita.

Esse prazer faz o tempo parecer passar mais rápido, na visão de Breno Cabral, que também chama atenção para a questão das batidas. "As mais fortes, mais rápidas, normalmente fazem com que a gente acelere o nosso metabolismo, acelera a frequência cardíaca e a produção hormonal e, consequentemente, tem maior rendimento dentro da atividade física e uma menor sensação de dor e cansaço."

Breno aconselha praticar atividades físicas ouvindo música, exceto no caso de esportes, pois exigem concentração e podem dispersar o atleta. "Pode até ouvir música antes. Alguns técnicos trabalham assim para elevar essa sensação de prazer, estimular os atletas para depois irem para o jogo, mas não durante. Já na academia, caminhada, corrida, bicicleta, é realmente indicado. Tenho indicado bastante."

A administradora de academia e praticante assídua de musculação, Eliane Maia (foto acima), considera a música ferramenta primordial para a atividade física. Para ela, estimula, traz alegria e melhora a aula. E cita como exemplo as sessões de spining, onde ouve-se tudo em volume bastante alto. "As salas são fechadas e climatizadas para que o som não escape para o resto da academia", comenta.

Na hora da musculação, o seu playlist é formada por música eletrônica. Não o 'poperô' das boates, mas sim a dance music dos anos 90. "Tem mais melodia, é gostosa de se escutar. Hoje, tem esse bate-estaca muito repetitivo."

Já Breno Cabral diz preferir músicas mais aceleradas, mais intensas, na hora em que vai malhar, pois lhe estimulam mais. Mas, em seu dia a dia como educador físico, ele diz perceber que as pessoas mais velhas preferem ouvir MPB, pop rock, ou  algo mais tranquilo, que mão estimule tanto.

Gosto pessoal também interfere

Não é apenas o estudo do paranaense Marcelo Bigliasse que aponta a música como elemento estimulador da atividade física. Há mais de 30 anos, pesquisa-se sobre o tema, no Brasil e em outros países. O próprio Breno Guilherme Cabral, doutor em Educação Física, diz conhecer estudos recentes realizados nos Estados Unidos e Inglaterra. Na Universidade do Estado de Santa Catarina, os professores Mário César de Andrade e Aluísio Otávio Vargas Avila também abordaram o assunto no trabalho "O uso da música na prática da atividade física". Todos eles, porém, convergem em um ponto: o gosto pessoal também tem grande interferência.

Ouvir suas canções prediletas durante a caminhada ou a corrida ajuda ainda mais a incentivar o corpo, otimizando os resultados, além de ser a melhor forma de se evitar o cansaço.

Para  Marcelo Bigliasse é importante sempre incluir na listagem canções que lembrem algo bom, alguma sensação, recordação ou sentimento positivos e revigorantes. Segundo ele, isso estimula ainda mais e incentiva a pessoa a continuar na atividade.

Breno Cabral comenta que todos os estudos têm comprovado realmente a necessidade de agradar os ouvidos antes de tudo. "Tem pessoas, por exemplo, que adoram fazer atividade física com música eletrônica; se sentem estimuladas pra isso. Mas, normalmente, para as pessoas de maior idade aquela música eletrônica já passa a ser um suplício."

Ele comenta ainda terem esses estudos mostrado que quando o indivíduo não gosta da música que está ouvindo a sensação de cansaço é acelerada; porque ele está executando uma atividade física e ao mesmo tempo está fazendo alguma coisa que não está gostando muito, não é agradável para o seu organismo. "Então, é interessante que seja uma música que realmente agrade o praticante."

O fisiologista Márcio Mousinho diz perceber que seus alunos mais maduros, na faixa acima dos 50 anos, já estão cansados de músicas mais eletrizantes e em volume mais alto.

"Apesar de a música alta ajudar no exercício, parece que a mente deles já cansou", comenta Mousinho, cuja academia da qual é proprietário dedica-se mais à clientela adulta. "Nós adaptamos a música durante a aula; colocamos MPB, chorinho; inclusive em volume mais baixo."

O professor de kung fu e boxe chinês, Marcelo Sena, percebe que a música ambiente tocada no salão de sua academia instiga ainda mais os alunos, principalmente os da primeira modalidade - que prefere um som mais eletrônico. "Porque o treino é mais puxado e precisa de música para dar mais explosão aos exercícios."

Já para as aulas de kung fu, o som diminui suas batidas por minutos (bpms). A trilha é composta por música tradicional chinesa. "São sons mais característicos, tipo aqueles de filmes como O Tigre e o Dragão", comenta Marcelo.

Bate-papo
» Breno Guilherme Doutor em Educação Física

Quando alguém que gosta de correr ouve música lenta? Ou então uma música que remeta a algum sentimento de tristeza... Isso pode atrapalhar o desempenho?

Os estudos mostram que, na corrida especificamente, uma música mais acelerada vai estimular e a pessoa consegue até oxigenar melhor os músculos, através de um aumento de metabolismo. Mas tem indivíduos que não gostam dessa música acelerada; tem outros que conseguem render mais ouvindo uma música mais calma, mais relaxada, e eles conseguem se concentrar na atividade. Tem indivíduos que usam essa música mais calma para que ele não sinta tanto essa sensação de tempo passando. Usam mais como uma distração. A música é eficiente sim, mas ela tem que ter esse intuito de distrair, esse objetivo de agradar o indivíduo para manter um equilíbrio.    

- Alguns defendem que deve-se alternar momentos de música com silêncio para que se ouça mais a respiração, as passadas, as reações do corpo?

Diria que essa questão do silêncio é uma coisa mais técnica. Muito mais para alguém que está precisando fazer algum treinamento. Ele vai utilizar a música para estimular e em outros momentos ele vai parar a música para sentir o corpo dele, mas não é uma regra para a atividade física diária com intuito de saúde. A regra é simplesmente conseguir agradar o ouvido. E as outras atividades utilizam o ritmo da música como intensidade do próprio exercício, como é o caso do spinning nas academias, nas aulas de dança, combat... essas sim colocam ritmos mais fortes quando você precisa de um movimento mais acelerado; ritmos mais lentos quando precisa de um movimento mais suave, ou ritmos contínuos quando você vai trabalhar com uma resistência maior. Isso é utilizado, mas é um acessório que o professor usa dentro da academia. Para o dia a dia, para se ouvir nos fones de ouvido, eu indico que seja uma música que realmente lhe agrade, que lhe faça sentir melhor.

Fonte:tribunadonorte.com.br

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