sábado, 1 de setembro de 2012

Estudantes ocupam ruas e avenidas


Um protesto contra o aumento da tarifa de ônibus provocou tumulto em Natal na tarde de ontem. Cerca de 1.500 manifestantes ocuparam diversas ruas da cidade. A movimentação teve início por volta das 15h na praça 7 de Setembro, próximo à Prefeitura, e terminou pouco depois das 21h já na BR 101, à altura do Natal Shopping.

O protesto, que durou cerca de sete horas, foi pacífico durante a maior parte do tempo. A polícia acompanhou de longe toda a movimentação. Alguns manifestantes mais exaltados queimaram pneu, picharam muros e veículos. Esse é o segundo protesto realizado pelos estudantes esta semana. O primeiro ocorreu na última quarta-feira, na BR-101, nas proximidades da UFRN.

A ideia do movimento, intitulado  "Revolta do Busão", era protestar em frente ao Palácio Filipe Camarão, mas depois da decisão da Prefeitura de encerrar o expediente mais cedo, o grupo resolveu percorrer e ocupar outras áreas da cidade.

De acordo com nota enviada pela Prefeitura, a  medida atendeu a orientação da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social e teve o objetivo de assegurar a integridade dos servidores que trabalham no local e populares que procuram os serviços ali oferecidos.

Gritando palavras de ordem os estudantes saíram pelas ruas do Centro da cidade, o destino era a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob). Diferente do que aconteceu no protesto anterior, pelo menos, no primeiro momento, a população apoiou a atitude dos jovens de lutar pela redução do valor da tarifa de ônibus.

Motoristas e comerciantes do Centro aplaudiram os estudantes, que desceram a  avenida Rio Branco [Cidade Alta] e ao chegarem à Ribeira pararam em frente ao prédio da TRIBUNA DO NORTE e ofenderam a imprensa  com palavras de baixo calão, além de picharem palavrões no muro do estacionamento da empresa.

No cruzamento das avenidas Tavares de Lira e Duque de Caxias, alguns manifestantes atearam fogo no lixo espalhado em em um pneu em frente à Defensoria Pública.

Por volta das 16h o grupo chegou em frente à Secretaria de Mobilidade Urbana. Alguns estudantes encapuzados subiram no teto de um ônibus da empresa Santa Maria que foi impedido de seguir a viagem.

Com a chegada dos policiais - que acompanharam a movimentação de longe - o grupo caminhou em direção à praça Augusto Severo, em frente ao Teatro Alberto  Maranhão, para definir o novo destino do protesto.

Os manifestantes ludibriaram parte do efetivo policial ao definirem que iriam à Praça Cívica,  quando na verdade seguiram rumo à zona sul da cidade pela avenida Hermes da Fonseca, chegando ao cruzamento com a Bernardo Vieira.

BR-101 é parcialmente fechada

Os estudantes seguiram em direção a BR101. O destino era a passarela do Natal Shopping,  o objetivo era fazer um "roletaço" - seguir viagem no ônibus sem pagar a tarifa de R$ 2,40.

Diferente do que aconteceu no primeiro protesto, na última quarta-feira, não houve confronto entre os estudantes e a polícia. Tanto os policiais militares como os rodoviários acompanharam de longe a manifestação.

Em virtude da largura da BR101 os manifestantes não conseguiram fechar toda a via, com isso carros, ônibus, motos e manisfestam dividiam o mesmo espaço. Sem nenhuma noção do perigo um estudante sentou no meio da BR 101, um caminhão passou bem próximo a ele. Uma menina se machucou - sem gravidade - e uma viatura da Semob a levou para o hospital.

Durante todo o trajeto os estudantes gritavam palavras de ordem e exigiam a revogação do ato que autorizou o aumento da tarifa de ônibus para R$2,40.

O trânsito não chegou a ser interrompido por completo na via, apenas os ônibus eram impedidos de prosseguir com a viagem. Só eram liberados aqueles em que o motorista abrisse a porta e permitisse a entrada dos estudantes. Até os ônibus de Parnamirim foram fechados.

Com receio que os manifestantes depredassem os ônibus, poucos motoristas ofereceram resistência e permitiram a entrada dos estudantes que pulavam a roleta, sem pagar a passagem.

A medida que os ônibus passavam os estudantes se dispersavam. Por volta das 21h poucos manifestantes estavam no local.

O próximo está marcado para a terça-feira (04), às 08h da manhã na Câmara Municipal de Natal.

Segurança é reforçada no Midway Mall

Passava das 17h quando os manifestantes seguiram em direção ao shopping Midway. Durante mais de duas horas o trânsito da avenida Hermes da Fonseca ficou completamente parado pelos estudantes que sentaram no meio do cruzamento com a Bernardo Vieira, um dos pontos com maior movimentação de carro da cidade. Um pneu foi queimado nas proximidades do Instituto Maria Auxiliadora. Os trabalhadores das lojas e escritórios pareciam assustados com a movimentação. Outros apoiaram o grupo.

Quem estava de ônibus preferiu completar o percurso a pé do que esperar pela liberação do trânsito. Os motoristas até tentaram furar o bloqueio intimidando os estudantes acelerando os carros, mas eles não saíram do local.

Situação ainda mais complicada era a do caminhoneiro  Warlen Almeida. Ele passou mais de duas horas parado e ainda tinha que seguir viagem para Fortaleza.Mais uma vez os manifestantes  ofenderam a imprensa. Um grupo de cerca de 10 pessoas cercaram a equipe da TRIBUNA DO NORTE e da InterTV Cabugi. Eles exigiam a saída dos jornalistas.

Após esse episódio os manifestantes ensaiaram uma dispersão, mas desistiram e resolveram continuar com a caminhada pela BR101 rumo ao Natal Shopping e ao Via Direta.

EDITORIAL

Excessos e acesso à liberdade

Alguns dos jovens que participaram da manifestação de ontem, pelas ruas de Natal, hostilizaram e agrediram equipes de reportagem da TRIBUNA DO NORTE e da InterTV/ Cabugi. Insultos foram gritados, ofensas foram pichadas em muros, profissionais foram intimidados e alvos de violência. Uma hostilidade irracional, contradizendo a motivação de   jovens que se pretendem "parcela consciente" da sociedade. Uma agressão covarde e vergonhosa para jovens que se apresentam como estudantes. As lideranças, entre esses jovens, podem não concordar com o que ocorreu. Mas, ao não coibirem tais excessos, mostram que são falhos como líderes.

Reclamavam - os jovens que gritavam por liberdade, democracia, exigindo ser ouvidos - que "a imprensa devia falar a verdade". A TRIBUNA DO NORTE, nas edições de quinta e de sexta-feira, deu amplo espaço para a manifestação. Reportou as razões dos jovens, mas também as consequências dos atos praticados por eles. Registrou fatos, como a ação da PM, e também as reações da população.


"Ao sair às ruas, os estudantes e seus líderes precisam, primeiro, se conscientizarem que isso é fazer jornalismo com responsabilidade e isenção. Que vivemos em um estado de direito e que o respeito à liberdade de expressão - de todos - é a garantia maior da democracia."

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