Dentro de 30 dias, projeto de lei que prevê a destinação de ISS e IPTU à área deve ser aprovado na Câmara Municipal
Importantes para o resgate da história e cultura popular do município de São Gonçalo do Amarante, os mestres de cultura oral esperam por incentivos que, finalmente, parecem estar a caminho para exercer sua função de levar a memória dos antigos às novas gerações e preservar o folclore do município, considerado berço da cultura popular do Rio Grande do Norte. Segundo o prefeito da cidade, Jaime Calado, a expectativa é de que os procedimentos legais sejam realizados nos próximos 30 dias para que seja aprovado um projeto de lei que permita ao município destinar o equivalente a 2% do ISS e 3% do IPTU do município a um fundo específico de cultura.
Em reportagem publicada em O Poti/Diário de Natal no dia 1º de abril deste ano, tradicionais mestres de cultura oral do município falavam sobre a falta de incentivo ao gênero e das dificuldades de manter viva a cultura popular dos mais antigos, seja ela através do congo, do fandango ou outras expressões folclóricas, algumas com sérias ameaças de extinção. São 300 anos de história em São Gonçalo e as tradições foram passando de mestre a discípulo até hoje, mas poucos souberam aprender e ajudam a preservar a memória popular da cidade como brincantes do folclore.
Jaime Calado diz que, desde o início de sua gestão (em 2009), vem tentando aprovar um projeto de lei que não conflite com a legislação do município, que proíbe a vinculação de verba à cultura, mas permite a "destinação" de recursos. A lei já foi elaborada e aguarda aprovação na Câmara Municipal, mas, segundo ele, a articulação com os vereadores já foi feita e espera-se que dentro de um mês a lei entre em vigor.
O chefe do executivo municipal diz ainda que a cultura é importante em qualquer lugar, "principalmente em São Gonçalo do Amarante", destacou. Os investimentos, caso ocorram, podem, segundo Jaime Calado, propiciar que os visitantes "sintam nitidamente a relevância cultural do município e que sua população mantenha viva sua memória folclórica". O projeto de lei prevê a criação de um fundo de cultura e os recursos serão destinados às mais diversas expressões culturais desenvolvidas no município, tanto antigas quanto novas, e a expectativa é atender também às demandas dos mestres de cultura.
De acordo com Alexandre Santos, presidente da Fundação Cultural Dona Militana, que tem entre suas missões salvaguardar a preservação da memória cultural dos sãogonçalenses, foi feita uma visita a cinco mestres de cultura de São Gonçalo a fim de realizar um mapeamento cultural do município: Mestre do Bambelô da Alegria, Sérvulo Teixeira de Moura; mestre do Boi de Lagoa do Tapará, Antônio Vieira da Silva; mestre Cícero Joaquim de Oliveira, conhecido Cícero da Rabeca (falecido); mestre dos Congos de Calçolas, Lucas Teixeira de Moura (falecido) e mestre do Boi Calemba Pintadinho, Dedé Veríssimo.
Ações de incentivo
São Gonçalo do Amarante preserva até hoje mestres de cultura em idade avançada e muita paixão pelo ofício, como o mestre Sérvulo Teixeira, 84, e o mestre Dedé Veríssimo, 64. Entre os incentivos que a prefeitura de São Gonçalo desenvolve em sua parte cultural, Alexandre Santos cita ações apoio aos grupos folclóricos com deslocamento de ônibus para eventos como Brasil Mostra Brasil, em janeiro; Feira de Cultura da Zona Norte, SBPC, FIART e Feira Itinerante SEMTHAS-RN, além de investimentos em vestimentas para alguns grupos.
De acordo com o prefeito Jaime Calado, "nunca se investiu tanto em cultura como a atual gestão, que criou a primeira Biblioteca Pública Municipal Dona Militana, mestre de cultura do município de maior destaque, inclusive nacional, como também a Fundação Municipal que leva igualmente seu nome". Jaime Calado fala que a ideia é elaborar uma política de incentivo à cultura permanente, "não apenas algo que acontece de acordo com os interesses de quem estiver no poder", e diz ainda que o ideal é que esses incentivos atinjam a esfera estadual e não se detenham à políticas municipais.
Fórum
Com a cultura em pauta, acontece amanhã o Fórum Municipal de Cultura de São Gonçalo do Amarante, que chega à sua terceira edição e acontece no Teatro Municipal Poti Cavalcanti (Rua Alexandre Cavalcanti), das 8h às 17h. O evento é aberto ao público, com entrada franca, e tem a promoção e coordenação do Grupo PeduBreu e a da República das Artes.
"Quero é voltar a tirar cipó na mata de São Gonçalo"
Lenilton Lima lembra ainda dos mestres artesãos, que são muitos em São Gonçalo. Ainda da família de Dona Militana, a irmã mais nova, Maria das Dores do Nascimento, detém o conhecimento de trabalhar com cipó para produção de balaio e outros utensílios. "O que quero é voltar tirar cipó na mata de São Gonçalo, faço isso desde 1950 quando ía com meus pais", disse Das Dores, 71 anos, nascida no Sítio Oiteiro e filha de Atanásio Salustino e Maria Militana. Ela também herdou do grande mestre do folclore o dom do improviso em seus versos.
Em reportagem publicada em O Poti/Diário de Natal no dia 1º de abril deste ano, tradicionais mestres de cultura oral do município falavam sobre a falta de incentivo ao gênero e das dificuldades de manter viva a cultura popular dos mais antigos, seja ela através do congo, do fandango ou outras expressões folclóricas, algumas com sérias ameaças de extinção. São 300 anos de história em São Gonçalo e as tradições foram passando de mestre a discípulo até hoje, mas poucos souberam aprender e ajudam a preservar a memória popular da cidade como brincantes do folclore.
Jaime Calado diz que, desde o início de sua gestão (em 2009), vem tentando aprovar um projeto de lei que não conflite com a legislação do município, que proíbe a vinculação de verba à cultura, mas permite a "destinação" de recursos. A lei já foi elaborada e aguarda aprovação na Câmara Municipal, mas, segundo ele, a articulação com os vereadores já foi feita e espera-se que dentro de um mês a lei entre em vigor.
O chefe do executivo municipal diz ainda que a cultura é importante em qualquer lugar, "principalmente em São Gonçalo do Amarante", destacou. Os investimentos, caso ocorram, podem, segundo Jaime Calado, propiciar que os visitantes "sintam nitidamente a relevância cultural do município e que sua população mantenha viva sua memória folclórica". O projeto de lei prevê a criação de um fundo de cultura e os recursos serão destinados às mais diversas expressões culturais desenvolvidas no município, tanto antigas quanto novas, e a expectativa é atender também às demandas dos mestres de cultura.
De acordo com Alexandre Santos, presidente da Fundação Cultural Dona Militana, que tem entre suas missões salvaguardar a preservação da memória cultural dos sãogonçalenses, foi feita uma visita a cinco mestres de cultura de São Gonçalo a fim de realizar um mapeamento cultural do município: Mestre do Bambelô da Alegria, Sérvulo Teixeira de Moura; mestre do Boi de Lagoa do Tapará, Antônio Vieira da Silva; mestre Cícero Joaquim de Oliveira, conhecido Cícero da Rabeca (falecido); mestre dos Congos de Calçolas, Lucas Teixeira de Moura (falecido) e mestre do Boi Calemba Pintadinho, Dedé Veríssimo.
Ações de incentivo
São Gonçalo do Amarante preserva até hoje mestres de cultura em idade avançada e muita paixão pelo ofício, como o mestre Sérvulo Teixeira, 84, e o mestre Dedé Veríssimo, 64. Entre os incentivos que a prefeitura de São Gonçalo desenvolve em sua parte cultural, Alexandre Santos cita ações apoio aos grupos folclóricos com deslocamento de ônibus para eventos como Brasil Mostra Brasil, em janeiro; Feira de Cultura da Zona Norte, SBPC, FIART e Feira Itinerante SEMTHAS-RN, além de investimentos em vestimentas para alguns grupos.
De acordo com o prefeito Jaime Calado, "nunca se investiu tanto em cultura como a atual gestão, que criou a primeira Biblioteca Pública Municipal Dona Militana, mestre de cultura do município de maior destaque, inclusive nacional, como também a Fundação Municipal que leva igualmente seu nome". Jaime Calado fala que a ideia é elaborar uma política de incentivo à cultura permanente, "não apenas algo que acontece de acordo com os interesses de quem estiver no poder", e diz ainda que o ideal é que esses incentivos atinjam a esfera estadual e não se detenham à políticas municipais.
Fórum
Com a cultura em pauta, acontece amanhã o Fórum Municipal de Cultura de São Gonçalo do Amarante, que chega à sua terceira edição e acontece no Teatro Municipal Poti Cavalcanti (Rua Alexandre Cavalcanti), das 8h às 17h. O evento é aberto ao público, com entrada franca, e tem a promoção e coordenação do Grupo PeduBreu e a da República das Artes.
"Quero é voltar a tirar cipó na mata de São Gonçalo"
Lenilton Lima lembra ainda dos mestres artesãos, que são muitos em São Gonçalo. Ainda da família de Dona Militana, a irmã mais nova, Maria das Dores do Nascimento, detém o conhecimento de trabalhar com cipó para produção de balaio e outros utensílios. "O que quero é voltar tirar cipó na mata de São Gonçalo, faço isso desde 1950 quando ía com meus pais", disse Das Dores, 71 anos, nascida no Sítio Oiteiro e filha de Atanásio Salustino e Maria Militana. Ela também herdou do grande mestre do folclore o dom do improviso em seus versos.
Irmã caçula de Dona Militana, Maria das Dores vê progresso da cidade dificultar sua atividade como artesã. Foto: Lenilton Lima/Divulgação |
O amor pelo artesanato também é passado de geração em geração. "Proibiram-nos de tirar cipó na mata aqui pertinho, estão botando a mata abaixo e a gente não pode tirar uma planta que, quando cortada, se multiplica e em seis meses pode ser colhida novamente. Temos que sair de São Gonçalo do Amarante pra colher cipó em Gramorezinho, Genipabu ou estrada de Touros. Antes trazíamos o cipó na cabeça, de carro de mão ou de carroça, não pagávamos nada hoje temos que desembolsar de R$ 60 a 80 reais de frete", desabafa Laudaci, filha de Maria. Laudaci mostra sua insatisfação e revela que já está perdendo o amor pelo artesanato e que já fez um curso de enfermagem para abandonar o artesanato pelas dificuldades de conseguir matéria prima.
Pesquisador defende amparo também a outras áreas
Para o pesquisador e fotógrafo Lenilton Lima, apaixonado pela cultura popular potiguar, "São Gonçalo do Amarante é de uma riqueza tão grande que, se fôssemos vasculhar, encontraríamos muitas outras riquezas e não apenas as que o governo tem conhecimento", disse, apontando como exemplos Seu Oliveira, um dos últimos rabequeiro da cidade, e Seu Currupe, cunhado de Dona Militana, que deve ser o último sanfoneiro vivo em atividade do município. "Quando se fala em mestre, se fala daquele que detém e repassa conhecimento", explica Lenilton, citando ainda João Viana, que ao lado do mestre Sérvulo Teixeira, é um dos poucos detentores de conhecimento sobre o Fandango, o folguedo mais ameaçado de extinção. "Ele e mestre Sérvulo Teixeira é que lutam pelo fandango".
Os rezadores também merecem atenção, na opinião de Lenilton. "O RN precisa de um mapeamento das riquezas materiais e imateriais. Consigo me lembrar de muitos romanceiros, relatos sobre eles, do pessoal das tribos de índios mais genuínas, como a de seu Currupe, que organizava a festa durante o carnaval a tribo de índio da cidade", disse, frisando que a tribo não existe mais. "Queremos contribuir com o conhecimento dessa gente simples. Moro em Natal, mas estou sempre perto dos mestres. Temos que ter o cuidado para que nosso povo não perca o pouco que tem para os poderosos, e que nossa arte e costumes não sejam substituídos por outros. O que produzimos tem que ser (re)conhecido pelos que vêm de fora e respeitado e valorizado por nos mesmo", desabafa Lenilton.
Os rezadores também merecem atenção, na opinião de Lenilton. "O RN precisa de um mapeamento das riquezas materiais e imateriais. Consigo me lembrar de muitos romanceiros, relatos sobre eles, do pessoal das tribos de índios mais genuínas, como a de seu Currupe, que organizava a festa durante o carnaval a tribo de índio da cidade", disse, frisando que a tribo não existe mais. "Queremos contribuir com o conhecimento dessa gente simples. Moro em Natal, mas estou sempre perto dos mestres. Temos que ter o cuidado para que nosso povo não perca o pouco que tem para os poderosos, e que nossa arte e costumes não sejam substituídos por outros. O que produzimos tem que ser (re)conhecido pelos que vêm de fora e respeitado e valorizado por nos mesmo", desabafa Lenilton.
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