Brasília
- A substituição da Prova Brasil pelo Exame Nacional do Ensino Médio
para calcular o Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), como
planeja o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, pode custar pelo
menos mais R$ 17 milhões por ano. A primeira alteração a ser feita, caso
se concretize a ideia do ministro, que pretende com a mudança
"turbinar" o Ideb, é tornar o Enem obrigatório, o que significaria
incluir entre os avaliados mais 300 mil concluintes do ensino médio. A
conta, feita com base no custo por aluno da prova deste ano, pode ser
maior se o Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas Educacionais
(Inep), que prepara o estudo pedido por Mercadante, concluir que será
necessário também ampliar a estrutura de aplicação da prova.
Este
ano, com o Enem feito em 1.680 municípios, o custo foi de
aproximadamente R$ 57 por candidato. A perspectiva do Ministério da
Educação é trabalhar com o mesmo valor. Os 300 mil concluintes que não
farão a prova e terão que ser incluídos, no entanto, podem estar em
cidades mais distantes e locais de mais difícil acesso, o que poderia
obrigar o ministério a ter que ampliar o número de cidades onde a prova é
realizada e, consequentemente, toda a estrutura de distribuição e
pessoal e o gasto necessário.
Valter Campanato/ABr
Aloízio Mercadante defende proposta de Haddad de criar um certificado de qualidade do ensino
O
custo, no entanto, não é uma grande preocupação no MEC. Com um dos
maiores orçamentos da Esplanada, o ministério já irá gastar este ano R$
332,6 milhões para que 5,79 milhões de candidatos possam fazer o Enem -
número que inclui estudantes de outras séries e que já concluíram o
ensino médio. Os R$ 17 milhões a mais, avaliam integrantes da Pasta, não
são considerados um grande problema. Há outros, mais complicados, que
podem até mesmo impedir que a proposta de Mercadante se torne realidade.
A
ideia saiu da cabeça do ministro. A proposta logo entusiasmou o resto
da equipe porque poderia ampliar a quantidade de alunos avaliados. Hoje,
a Prova Brasil é a única do Ideb que é por amostra, e não censitária
como os testes do 5º e do 9º ano. Em 60 dias, o Inep precisa entregar um
estudo que deverá dizer se é viável usar o Enem como parte da Prova
Brasil.
Há pouco mais de duas semanas, em uma entrevista ao
jornal O Estado de S.Paulo, o ministro havia descartado a hipótese, já
estudada há algum tempo, de tornar o Enem obrigatório. Seu antecessor, o
hoje candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad,
pensava em transformar a prova em uma certificação nacional para os
concluintes do ensino médio, mas para isso precisava da anuências de
todos os Estados, o que nunca aconteceu.
Agora, no entanto, para
evitar distorções nos resultados, fazer com que todos os formandos do
ensino médio participem da avaliação é condição básica para usá-la na
Prova Brasil. De acordo com as contas do ministério, faltam apenas 300
mil dos 1,8 milhão de estudantes que terminam o 3º ano em escolas
públicas anualmente no País - este ano, há 1,5 milhão de inscritos no
Enem nessa condição. Esses, no entanto, representam 20% dos concluintes e
podem ter um peso significativo na nota, já que são justamente aqueles
que parecem não ter interesse em fazer universidade.
Para o
presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, o governo não está criando
"uma saída para mascarar os números". "Temos desafios no ensino médio e
pretendemos achar uma medida mais exata para enfrentá-los. A nota do
Enem mostra uma outra tendência, mas não minimiza os problemas que
temos. O sinal amarelo foi dado, qual caminho devemos seguir?"
Enem tem 5,7 milhões de alunos inscritos no BrasilA
avaliação do ministro Aloízio Mercadante é que os estudantes que fazem o
exame do ensino médio têm maior empenho, já que pode ser o caminho para
a universidade. Aqueles que participam da Prova Brasil não teriam a
mesma vontade, já que o teste não teria valor. O que diferencia os
candidatos do Enem e os estudantes da Prova Brasil não é apenas o
empenho. O Enem, que tem este ano 5,79 milhões de candidatos, atrai um
público com maior perspectiva de entrar em uma universidade, o que já
garante estudantes não apenas com mais empenho, mas também com melhor
formação.
Além disso, apenas 1,5 milhão dos que farão a prova
este ano são concluintes do ensino médio. A grande maioria é de pessoas
que já terminaram a escola. Se é verdade que parte desse público pode
ter esquecido parte do conteúdo aprendido na escola, outra parte pode
ter melhorado sua aprendizagem nesse período pós ensino médio.
Outro
risco que será analisado pelo Inep é o de que se perca a série
histórica da prova, já que a prova que compõe o Ideb e o Enem são
diferentes na formulação e na abrangência e não podem ser comparadas
entre si. Enquanto o Enem avalia todo o conteúdo do ensino médio, a
Prova Brasil se concentra em português e matemática.
Um dos
pontos estudados é a possibilidade de se reunir conteúdos de ciências em
apenas uma prova para que esse passasse também a entrar na avaliação da
Prova Brasil - algo que é estudado já há algum tempo - mas dentro do
próprio ministério há quem se pergunte como fazer isso, se até mesmo a
formação dos professores de química, biologia e física são separadas.
Apesar do desejo de Mercadante, não há garantias de que a mudança possa
ser colocada em prática. Trabalha-se, já, com a ideia de que se tenha
dois índices para o ensino médio, um com a Prova Brasil e outro com o
Enem.
Logo depois das eleições, o Ideb será tema de seminários no âmbito das prefeituras.
Fonte:tribunadonorte.com.br