RECORDAÇÕES DO PASSADO
Eu sinto recordação
Fazenda Serra do Gado
Ainda estou dando as provas
Que permaneço ao seu lado
Inspirei-me nesse tema
E te escrevi um poema
Recordação do passado.
Resistente casarão
Onde nasci e me criei
Ouvindo os santos conselhos
Dum velho que tanto amei
Hoje doente e cansado
Seu Tonho de Serra do gado
Teu nome sempre honrarei.
Criado com feijão verde
Batata doce e cuscuz
Que minha mamãe fazia
Meu sentimento traduz
Sua beleza inda é tanta
Que só parece uma santa
Rezando aos pés de jesus.
Quando eu adoecia
A minha mamãe com cautela
Fazia um chá de erva-doce
De pepaconha ou canela
Cantava até que eu dormia
E debaixo do sono ouvia
Papai chamando por ela.
Lembro de Orlando caçando
Mocós e maracajás
Com seu cachorro Tupi,
Correndo atrás dos preás
Tirando o leite das vacas
E concertando as estacas
Das cercas ruins dos currais.
Criado junto a Maninho
Dos sete anos pros dez
Atirando nas rolinhas
Armando pedra e mondés
De baladeira na mão
E a terra quente no chão
Queimando a sola dos pés.
Recordando minha infância
Que travessuras eu fazia
Entrava em roçado alheio
No pino do meio dia
Depois que matava a fomo
Saia e deixava o nome
Na casca da melancia.
Lembro de tio Odilon
Que com caráter e critério
Me dava tantos conselhos
Com seu semblante tão sério
Hoje dele recordando
Faço uma prece chorando
Na cova do cemitério.
Eu sinto recordação
Do tempo da mocidade
De tia Lala e tio Josa
Um velho de autoridade
Já tantos anos depois
Quando recordo dos dois
Resta somente a saudade.
Com Otávio, Olavo e Osmar
Quanto prazer eu sentia
Quando assistia as novenas
Que tia Sinhá fazia
Com o bolso cheio de pipoca
Correndo atrás das tabocas
Do foguetão que caia.
Quando relembro a infância
Quanta saudade me vem
Lembrando primos e amigos
A quem eu quis tanto bem
Hoje lembrando a distância
Que nos separa da infância
Sentem saudades também.
Autor: Manoel Américo de Carvalho Pita
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